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Sou ilhéu. Moro no meio do Atlântico. Preocupa-me como não podia deixar de ser o ambiente e as alterações climáticas. Os Estudos do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) concluem que a temperatura média global da atmosfera à superfície irá aumentar até 2100 num valor compreendido entre 1.4 e 5.8ºC, relativamente a 1990.
Ora, sabe-se lá porquê as zonas costeiras e as ilhas revelam-se extremamente sensíveis face a determinados fenómenos globais de alteração climática designadamente à elevação do nível médio do mar! Tenho mesmo que “give a damn”…
Cabo Verde é um país periférico e arquipelágico, que vive um período de transição, do grupo dos países menos avançados para o dos países de desenvolvimento médio – uma proeza se tivermos em conta os escassos recursos e os trinta e poucos anos que o país tem.
Transição ou encruzilhada? Neste mundo globalizado, em que a competitividade é deificada, pode um pequeno país lutar por um desenvolvimento que permita satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem as suas?
Enfrentar os complexos desafios que se colocam a Cabo Verde, desde a redução da dependência energética, à exploração sustentada do turismo tendo em conta os seus impactes ambientais, sociais e económicos e o seu valor estratégico, passando pelo tratamento dos resíduos, não é fácil. E menos fácil é se atentarmos na necessidade de investimento externo para assegurar o tal desenvolvimento e na necessidade de competitividade. Convenhamos!

Mas a verdade é que é preciso termos consciência que a competitividade não se pode dissociar do ambiente e da sua protecção. Um exemplo é naturalmente o desenvolvimento do turismo, actualmente, a nossa “galinha de ovos de oiro, assume uma importância relevante e crescente em termos económicos mas impõe que sejam prevenidos os impactes negativos e de natureza cumulativa e dentre estes:

- construção de grandes infraestruturas na zona costeira;
- poluição da água do mar e das praias;
- perda de biodiversidade resultante, por exemplo, da erosão das dunas devido a construções e pressões das actividades dos visitantes;
- problemas urbanos, por exemplo a prostituição registada em muitos locais de grande afluência turística.

Ora, a qualidade de vida e as riquezas naturais e paisagísticas são o recurso primordial do turismo – sendo precisamente as suas principais vítimas no contexto de um desenvolvimento não sustentável. São claros os efeitos negativos que a diminuição da qualidade do ambiente tem na procura turística. Mata-se a galinha…
É certo que, cabo Verde tem utilizado, uma das chaves do sucesso de uma estratégia de desenvolvimento sustentável: a educação para a cidadania, que de facto se revela como uma condição indispensável da mudança de paradigmas culturais e valores éticos, sem a qual não há “governação responsável”, nem participação pública.
Mas falta informação, falta mobilizar e ajudar a sociedade civil a encontrar por ela própria soluções locais sustentáveis e a participar largamente na discussão da temática (como aconteceu há bem pouco tempo com o caso das descargas de águas residuais não tratadas com contaminação microbiana das águas costeiras), do enfrentamento dos desafios e a transformar-se na guardiã (não de tesouros) da sua sobrevivência.
Contribuindo assim, também, para o sucesso nos desafios que enfrentamos neste mundo global.

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