Este silêncio…

Partilhar

Foram dias intensos. Pouco (às vezes nada) passei por aqui e sempre de corrida. Um post ou outro, com poucas palavras.
No regresso encontro um quase silêncio.
Esta palavra liga-me a um dos melhores livros que já li, “Silêncio” de Didier Comés. Um mergulho no preto e branco. Intenso. Uma paixão imediata. É um livro que se sente a cada página, desenhos que gritam e entranham em nós. Um silêncio que ensurdece. Um silêncio que dói.
Não li as sequelas. Nem a “Iniciação”, nem a “Vingança”. A possibilidade de desilusão falou sempre mais alto. Aquilo que é perfeito não tem continuação, acaba.
Não é Maltese (os traços às vezes fazem lembrar), porque Maltese é imperfeito, deixa margem e esperança, espera-se (esperava-se) ansiosamente o próximo.
Silêncio é perfeito. Não é "continuável".
Ainda se lê BD? Ou tudo se fica no Harry Potter?
Há muito que não me passa pelos dedos uma boa BD. Sei lá, Bilal, Thorgal, até Brubaker apesar de ter morto o Capitão América… perdi a pica quando a ficção científica começou a transformar-se em “mundo pós-apocalíptico”, “distopia” e “futuro próximo”.
Tanta conversa… Que vinha eu postar? Já me lembro: foram dias duros, nos limites e num mar imenso de dúvidas! Dias daqueles que gosto, stress, adrenalina e sentir-me Alive and kicking.
Uma foto e umas palavras reconduziram-me a Brecht, e à poesia. Fica mais um dos que gosto, Carlos Drummond de Andrade:

"Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim."
E, porque as palavras não ditas são muitas e não estão nas entrelinhas... deixo um excerto de um poema de Daniel Filipe:
"...um homem e uma mulher
se encontraram num bar de hotel
numa tarde de chuva
entre zunidos de conversa
e inventaram o amor com caracter de urgência deixando cair dos ombros o fardo incómodo da monotonia quotidiana
Um homem e uma mulher que tinham olhos e coração e fome de ternura
e souberam entender-se sem palavras inúteis
Apenas o silêncio A descoberta A estranheza
de um sorriso natural e inesperado
Não saíram de mãos dadas para a humidade diurna
Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente"

1 comentários:

les uns et moi disse...

li, gostei e sorri (e porque tu entendes este meu sorriso)
valeu a pena :)

beijos de ca'